Exposição: Santuário de Fátima revela tesouro oculto da irmã Lúcia
Exposição histórica abriu ao público este sábado.
Neste sábado, o Santuário de Fátima abriu as portas de uma exposição inédita que marca um século de devoção e mistério. Pela primeira vez, objetos íntimos da irmã Lúcia — desde o hábito e cartas pessoais até um crucifixo e simples canetas — serão expostos ao público. Ao lado deles, obras magistralmente preservadas e classificadas como Tesouro Nacional elevam o momento a uma celebração histórica do centenário das aparições da Virgem em Pontevedra, Espanha.
Entre os objetos mais inesperados estão uma castanhola, dedal, agulhas, novelos e até miniaturas litúrgicas feitas pela própria vidente: um universo pequeno, mas carregado de significado e espiritualidade.
Sob o título “Refúgio e Caminho”, a mostra reúne ainda joias raras como Ecce Homo (Museu Nacional de Arte Antiga) e Última Ceia (Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo) — obras que raramente saem das reservas e que agora brilham em Fátima com o peso do seu estatuto de Tesouro Nacional.
Mas o percurso não se limita ao passado. O Santuário traz também esculturas, tapeçarias, pintura contemporânea e representações das visões de Pontevedra e Tui, numa viagem que cruza arte, fé e memória. O coração da vidente pulsa em cada sala.
A mulher por detrás do mito
Lúcia de Jesus, a última guardiã do segredo de Fátima, nasceu em 1907 e viveu até 2005. Após a morte dos primos Francisco e Jacinta, tornou-se religiosa doroteia e viveu grande parte da sua vida em Espanha, onde recebeu duas aparições decisivas para a mensagem de Fátima: a devoção dos cinco primeiros sábados (1925) e a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria (1929). Em 1948, entrou no Carmelo de Coimbra, onde permaneceu até ao fim da vida.
Para Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário e coordenador geral da exposição, Lúcia é “uma figura com um poder de atração extraordinário, talvez único na Igreja do século XX” — uma personalidade que ultrapassa fronteiras religiosas e geográficas.
Uma exposição que se vive com o corpo e com a alma
Dividida em sete núcleos, a mostra inicia-se com o Coração de Maria, tal como Lúcia o descreveu. Uma enorme boia em forma de coração, repleta de rosas, recebe os visitantes — imagem que convoca o refúgio, a salvação e o drama dos que procuram terra firme em tempos de turbulência.
Num dos espaços mais intensos, as 14 estações da Via-Sacra envolvem um coração coroado de espinhos. À volta — imagens de guerra. Ao centro — sinais de esperança.
Há momentos íntimos, como a carta em que Lúcia implora à mãe que pratique a devoção dos cinco primeiros sábados. E há gestos simbólicos: um écran onde o visitante “recicla pecados”, uma estrutura para deixar espinhos, e um ambiente sonoro marcado pelo ritmo constante — como o bater de um coração.
Uma experiência, não apenas uma exposição
É um percurso sensorial, espiritual e histórico — uma celebração que pretende tocar tanto crentes como visitantes em busca de memória, arte ou reflexão. A mensagem resume-se num refrão que ecoa por toda a mostra:
A exposição abriu este sábado, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, e poderá ser visitada até 15 de outubro de 2027, com entrada gratuita.

