Outra vez a Barragem do Carril… e as culturas ameaçadas

Foi inaugurada a 27 de fevereiro de 2002, já lá vão 23 anos.

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Na última Assembleia Municpal de Tomar, a CDU voltou a defender as reivindicações dos regantes da Barragem Carril, que vêem as suas produções agrícolas comprometidas por não terem como defender os seus interesses junto da gestão deste equipamento hidroagrícola.
É inacreditável todo o processo, pelo qual tem passado, desde da sua conclusão até aos dias hoje, no que diz respeito à gestão da água e manutenção do equipamento.
Este processo é bem demonstrativo do pior que caracteriza um certo espírito português, assente no individualismo, do que não faz, nem deixa fazer, e quando alguém faz, é alvo de críticas e protestos.

Nesta barragem foram gastos uns milhões de euros, o projeto destinava-se ao aproveitamento hidroagrícola, anunciado como uma mais-valia para a região e, em particular, para os agricultores cujos terrenos confinam com a barragem. Mas nunca se entenderam, apesar das várias tentativas de constituição de uma junta de regantes, que após formada, acabou sempre por se demitir.

Inaugurada a 27 de fevereiro de 2002, já lá vão 23 anos (o sistema de rega só entrou em funcionamento em 2004),  previa a constituição de uma Junta de Agricultores que gerisse a gestão da água e assegurasse, em parte, a manutenção da Barragem do Carril, o que nunca foi cumprido na sua plenitude. Foram eleitas várias juntas que acabaram sempre por ter uma vida curta, devido a divergências e críticas dos seus elementos.

Com tantos anos de impasse, em 2023, chegou a ser avançado que a Barragem do Carril, no concelho de Tomar, poderia vir a ser explorada por empresas privadas e que o município também queria fazer parte da gestão. Chegou a ser publicado em Diário da República a portaria que abria portas a esta hipótese, obrigando a outra classificação de acordo com a lesgilação em vigor. Segundo ainda o que foi divulgado na altura, havia três investidores privados interessados na gestão da Barragem do Carril. Mas na verdade, nada avançou e a situação continua neste impasse, os agricultores não sabem a quem recorrer, apesar da mesma estar sob a alçada da Direção Regional da Agricultura Pescas de Lisboa e Vale do Tejo (DRAPLVT) e que tem assegurado alguma manutenção quando o sistem entra em rotura.

É profundamente triste e lamentável, que depois de um investimento desta natureza, com o objetivo de potenciar os recursos existentes na zona, os agricultores, os mais interessados, não tenham sido capazes de se organizarem e de cooperaram para numa Junta de Agricultores e Regantes terem os seus interesses e futuro defendidos. Provavelmente a atual situação é mais benéfica para alguns, que utilizam a água e não a pagam. Mas não deixa de ser reveladora do espírito bem à portuguesa, salve-se quem puder. Contudo, esperava-se que as verbas conseguidas do pagamento da água viessem a garantir a sua recorrente manutenção.

Segundo consegui apurar, no ano passado ainda se realizou uma reunião para se avançar com a solução para a constituição de uma Associação ou Junta para a gestão da Barragem, mas os elementos que ficaram incumbidos de dar passos nesse sentido, nunca avançaram com o processo.

Neste momento, sabe-se apenas que os agricultores estão muito preocupados, porque as condutas para a irrigação têm que ser fechadas, por tempo indeterminado para manutenção, colocando em causa as atuais e futuras culturas. Um problema que não vai ser fácil de resolver, porque decidir-se com alguma margem erro, sempre é melhor do que deixar a solução adiada sine die. Um dia pode ser tarde demais.

Alguns dados sobre a Barragem do Carril:

A Albufeira e infraestruturas do Aproveitamento Hidroagrícola do Carril desenvolvem-se nas freguesias de: – S. Pedro de Tomar; – União das Freguesias de Tomar (Sta. Maria dos Olivais e São João Baptista); – Serra e Junceira e – Casais e Alviobeira, concelho de Tomar, totalizando uma área beneficiada pelo projeto de 398 hectares, englobando 958 prédios rústicos, com uma área média de 0,8 ha, 614 proprietários e 550 explorações agrícolas.

A rede de transporte e distribuição, composta por tubagem enterrada sob pressão gravítica, tem um desenvolvimento de 17.683 m e a tubagem tem diâmetros que variam entre 125 e 700 mm, dispondo de 75 hidrantes, 16 válvulas de seccionamento, 30 descargas de fundo e 18 ventosas e 133 bocas de rega. O método de distribuição é a pedido, isto é, o agricultor não está sujeito a um horário de rega rígido, admitindo-se utilizações de rega localizada e por gravidade recorrendo a sulcos, com possibilidade de rega por aspersão e gota-a-gota.

De acordo com dados de 2003, na área regada, a cultura mais relevante é o milho, sendo, todavia, de referir os investimentos realizados, nomeadamente pela empresa CCS-Produção de cogumelos em toros de madeira em estufa com uma produção prevista 70 a 80 kg por semana e a empresa Thomarland-Produção de morangos em hidroponia.

Isabel Miliciano

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