Como gastamos: uma boa síntese sobre o consumo e a poupança das famílias portuguesas

Por: Mário Beja Santos

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vvvvvvvComo gastam os Portugueses – endividamento, hábitos de consumo, importações e exportações, por Susana Peralta, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2020, custa 1€ e vale muitíssimo a pena. A autora diz ao que vem, em dezenas de páginas: caraterizar a evolução do rendimento dos Portugueses, e como este é dividido entre consumo e poupança, a informação de que dispomos sobre Saúde, Turismo, Cultura e Energia; como a informação sobre o consumo das famílias pode ser utilizada para caraterizar situações de pobreza.

É dado assente que o rendimento, com exceção do período entre 2011 e 2014, tem conhecido aumentos desde a década de 1960. Observa, tal como acontece em outros países do mundo, os ordenados e salários têm vindo a perder importância; chegaram a quase 70% do rendimento total no final da década de 1970, mas são agora apenas 50%. Por outras palavras, a maior parte do aumento do rendimento pertence às pessoas que têm outras fontes de rendimento. Falando da informação que nos fornecem as declarações de IRS, recorda que mais de 40% das famílias portuguesas ainda têm menos de 10 000 € anuais de rendimento bruto (cerca de 833€ brutos por mês) e apresenta um elemento que se revela útil para a compreensão do nosso tempo: a percentagem de famílias com mais de 27 500 € anuais aumentou, atingindo 16,1% em 2017, sete vezes mais do que em 1990. O rendimento dos 12% mais ricos cresceu quase 3 vezes mais do que o rendimento dos 40% mais pobres. E os 20% mais ricos têm cinco vezes mais rendimento disponível do que os 20% mais pobres em 2017 e 2018.

Vejamos agora o que os Portugueses fazem com o rendimento, nada é linear. Atenda-se que o valor médio de 22% gastos em alimentação esconde uma enorme heterogeneidade entre diferentes famílias; os mais pobres e remediados gastam uma parte mais substancial do seu rendimento em alimentação, ao passo que as pessoas com maior nível de rendimento gastam menos, percentualmente. Sempre foi assim, mas convém estar desperto para a realidade dos factos. O peso muito reduzido da Saúde e da Educação nas despesas explica-se pela forte intervenção do Estado na provisão e financiamento destes dois setores. Os itens de despesa que têm subido mais são a habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis. Dado curioso: os bens com maior peso nas importações portuguesas em 2019 foram minérios e metais, bem como máquinas, seguidos de perto por químicos, borrachas, produtos agroalimentares e material de transporte. No conjunto, estas categorias representam 85% das importações portuguesas. A taxa de poupança era de 5,5% em 1960 e foi sempre subindo; recentemente, iniciou uma trajetória de decréscimo, desde 2005 só se situou acima dos 10% em 2009 e em 2018 era de 6,7%.

Falando do que se convenciona chamar a riqueza dos Portugueses, sabendo a sua percentagem de poupança, temos os depósitos à ordem como outra medida. Fica-se a saber que os depósitos a prazo representam, consoante o ano, entre 58 e 78% do total dos depósitos. O crédito a particulares atingiu o seu mínimo de 6,6 mil milhões de euros em 2013. Em 2019, o montante de novos empréstimos foi de 18 mil milhões de euros, valor que está ainda longe dos da primeira década do século XXI. Em termos de endividamento, a percentagem de famílias em incumprimento tem estado sistematicamente acima dos 10%, as percentagens do montante de crédito mal parado conhecem sobe e desce, foi de 4% em 2018.

Obra valiosa para quem precisa de trabalhar com números fiáveis, para saber as despesas em Saúde ou em cultura, para se conhecer as situações de pobreza utilizando o consumo das famílias, como compram os portugueses e, inevitavelmente, pôr-nos em comparação com os restantes países europeus. De leitura obrigatória, não pode haver 1€ mais bem gasto!

Mário Beja Santos

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