Tomar entre as mais belas cidades de Portugal

Por: Beja Santos

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Com texto de Júlio Gil e fotografia de Nuno Calvet, em 1995 a Editorial Verbo pôs no mercado mais um livro de altíssima qualidade, “As mais belas cidades de Portugal”. Com uma curiosa estrutura, as cidades de Bragança a Leiria foram intituladas de Do Montanhoso Nordeste ao Pinhal do Rei; de Tomar a Lagos arranjou-se um bonito crisma, Das muralhas dos Cavaleiros às caravelas do Infante; e as cidades arquipelágicas foram denominadas Cidades de Aproar e Ficar.

 

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Não escondo que o mais me impressiona na apresentação de Tomar é o inexcedível das fotografias de Augusto Cabrita, estou absolutamente seguro que se dispuséssemos de um museu nacional de fotografia, aquelas imagens da passagem do Nabão pelo parque, com a Ermida da Conceição num céu azul fortíssimo onde dançam algumas nuvens, a cidade vista do castelo, tendo em primeiro plano a Igreja de S. João Baptista, uma cor como eu nunca vi no sumptuoso e belíssimo portal do Convento de Cristo e mesmo a atmosfera que nunca encontrei em nenhuma outra imagem da Alameda do jardim do Castelo, tendo escondidas no arvoredo as ruínas de uma ermida que foi da Invocação de Santa Maria do Castelo e mais tarde de Santa Catarina.

Nenhum autor destas viagens pode inventar a roda, torcer ou contorcer a História de Tomar, encontrar novas angulações na Reconquista Cristã, na reconstrução e povoamento confiados aos Cavaleiros do Templo nem encontrar novidade naquela linha de infiltração constituída por Soure, Pombal, Ega, Redinha, Ceras, Zêzere, Almourol, Tomar, Asseiceira, Golegã, uma vigilância que ia das terras do Mondego para o Sul. Bonito é o texto da escolha do posicionamento do castelo, mestre Gualdim Pais não ficara satisfeito com o sítio de Ceras, e assim se escreve:

“Porém, na margem direita do rio Nabão, a que os mouros chamavam Tomar, três ribeiros corriam para o rio cortando um terreno baixo, de boa dimensão, dominado por quatro empinados cerros cobertos de espesso matagal e que os mesmos ribeiros separavam. Aqui, sim, além do mais, o sítio sobrepunha-se ao vale do Nabão e à estrada militar romana.

Seria este o local da sede dos Templários. Com o tempo os ribeiros haviam de receber os nomes de São Gregório, Riba Fria e Água das Maias; também mais tarde os quatro montes chamaram-se da Senhora da Piedade, do Convento, de Santa Bárbara e do Piolhinho – parecem ter tirado sortes para eleger o monte onde se construiria o castelo e por três vezes saiu ao que ficava entre a ribeira de São Gregório e a Riba Fria. Passados mais de oito séculos julga-se que não podia escolher-se melhor”.

Quem escreve tem que assumir a qualidade de roteirista, e daí a extensa sequência cronológica do papel da Ordem dos Templários até à sua transformação da Ordem do Templo. Como é de todos sabido, a cabeça da Ordem do Templo foi fixada em Castro Marim, justificava-se pela sua proximidade com território ainda muçulmano. Em 1357, D. Pedro I ordenou a mudança da sede da Ordem para o Monte do Convento.

E traça-se o histórico da monumentalidade do local, a construção da Charola, a presença do Infante D. Henrique e o seu paço de que restam os claustros do Cemitério e da Lavagem, as transformações operadas por D. Manuel I e depois com D. João III, quando o Convento atinge a sua dimensão mais significativa.

O autor rende-se a tanta beleza e leva-nos pelos claustros, logo o de Santa Bárbara, depois a Hospedaria, Micha, Necessárias, Corvos, pasma com a unidade do gigantesco convento e as diferenças destes claustros. E regressamos à cidade, ao histórico encontro de D. João I com o Condestável, resta uma capelinha para assinalar esse momento decisivo, a escassos dias antes de Aljubarrota. E temos o traçado da então vila a caminho das margens do Nabão. É-nos dado a saber que a Ordem mandou construir o Hospital de Santa Maria da Graça, instituiu uma feira, regularizou as margens do rio, foram secados pântanos, fixadas famílias, apoiada a comunidade judaica. Cresce o povoado, impõe-se o estilo manuelino em S. João Baptista. “Harmoniosa e de rara personalidade, a vila antiga orgulha-se dos seus numerosos e belos monumentos arquiteturais e decorativos não só medievais e manuelinos, mas das épocas recentes, todos participantes desse encanto que nos desperta – varandas alpendradas, seculares portais, arcarias góticas, janelas de ângulo e janelas geminadas renascentistas, sóbrias casas nobres, vãos de recortar as vergas, a formosa e quinhentista Ermida de São Gregório com o seu portal manuelino e acolhedora galilé e esse tesouro arquitetónico erguido num terraço natural entre a cidade e o Convento de Cristo, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição”.

E há muito mais, há Santa Iria, Santa Maria do Olival, os apetecíveis parques do Mochão, a Mata Nacional dos Sete Montes com a sua alameda floral. Quem vier com tempo e entusiasmo tem muito a contemplar na Várzea Grande e a viatura deve levar o viajante até ao Aqueduto dos Pegões. Se o turista tem costados de aprendiz de arqueólogo ao menos percorra do exterior as ruínas da fábrica da fiação, sujeita a uma inaudita depredação, com a sua bonita levada, percorra as ruas do casco histórico, os Lagares d’El-Rei, a Sinagoga, essa Tomar está justificadamente entre as mais belas cidades de Portugal porque não se limita a ter sido um dos fundamentos da nacionalidade, nem dos Descobrimentos, dos seus quartéis, partiu gente para várias guerras, há um Núcleo de Arte Contemporânea legado por nome ilustre tomarense, José-Augusto França, que merece uma demorada visita, há para ali muito boa pintura, escultura e desenho, há o Convento de S. Francisco, o jardim da Várzea Pequena, o Café Paraíso, apresenta-se este património um tanto à solta, o viandante precisa de saber que há muito para ver, umas horas de autocarro de excursão são insuficientes para reter os valores tomarenses que, aliás, se expandem pelos arredores, há quintas assombrosas, e da gastronomia não se fala, embora pareça ser impossível fazer alusão a uma das mais belas cidades de Portugal sem a sua boa comidinha.

Beja Santos

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