Asseiceira: Aprender com os oleiros uma tradição secular
Está prevista a criação, no concelho de Tomar, de uma «Oficina de Olaria», ou «Casa do Barro».
O convite chegou através de Diogo Rosa, na Olaria de José Miguel, em Asseiceira, estava previsto decorrer durante este sábado, um dia aberto para todos os ceramistas e interessados em sentir a «arte» de moldar o barro. A iniciativa decorreu no âmbito do “Dia da Cerâmica”, estipulado pela Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica, que Tomar integra.

Num ambiente, entre talhas, «oleiros» e aprendizes, alguns dos quais já com vários anos de prática, fomos pouco a pouco conhecendo esta atividade, que tem as suas técnicas próprias e um saber peculiar, que acompanha a peça desde do seu «nascimento» até à produção final, quer seja pequena ou de grandes dimensões.
Na olaria do José Miguel, encontrámos a argila, que depois do tratamento a que é sujeita se transforma em barro. A argila no seu estado natural pode ter diversos tons, mas só depois de ser cozida é que sabemos a cor final da peça a que deu corpo. Nem sempre a mais escura dá peças em barro de tonalidade mais intensa. Daí que encontramos peças de várias tonalidades dentro da mesma cor.
Ali, José Miguel é dos poucos, ou talvez o único no país, que a partir da argila, produz o próprio barro com que vai produzir as suas peças. Há oleiros que já compram o barro preparado para o fabrico das peças.

Aqui, todo o processo é de forma tradicional, sem recurso à roda do oleiro, é tudo manual. As talhas, muito procuradas, a nível nacional e até mesmo internacional são todas produzidas manualmente, de acordo com a antiga técnica romana. Desta forma, são várias as fases de montagem do barro, camada após camada, depois vai-se alisando com uma peça de cana, e os floreados das próprias talhas são todas desenhadas à mão, com tanta destreza e perfeição que impressiona.


Só depois da peça estar completa, com bocas redondas ou simplesmente com motivos a imitar a corda em torno delas, vai para o gigante forno a lenha. Também este foi adaptado, a forno de lenha, depois do seu sistema já ter sido a gás, mas devido ao elevado preço deste combustível, nos últimos tempos, José Miguel apostou no forno tradicional a lenha. No forno entram várias peças ao mesmo tempo, com cuidado, porque as peças estão seco, mas o barro não está cozido. É todo um processo de engenho e arte.
Sobre esta tradição, os poucos oleiros que existem estão preocupados com a sobrevivência, no futuro, desta atividade, não por falta de encomendas, mas antes pela falta de mão obra, de gente que queira fazer disto um modo de via. Todos lamentam que um dia possa acabar.
Para contrariar esse mau augúrio, quanto ao seu futuro, e em conjunto com a Câmara Municipal de Tomar, vão avançar brevemente para a criação, no concelho de Tomar, uma «Oficina de Olaria», ou «Casa do Barro», uma vez que o nome ainda não está definido.
Será instalada na antiga escola primária da Charneca da Peralva, edifício que se encontra devoluto, e com espaço suficiente para um projeto desta natureza, garantem. Há que preservar a tradição no concelho, uma vez que a Festa dos Tabuleiros precisa de enfusas para os aguadeiros e a roda do Mouchão tem os seus pequenos alcatruzes em barro. Por outro lado, o objetivo é também manter viva a tradição da olaria no nosso concelho, onde a localidade de Asseiceira nos seus tempos aureos chegou a ter 30 olarias em funcionamento com mais de 60 pessoas a trabalharem diariamente.
Isabel Miliciano