Ferramentas digitais são aliadas ou estão a substituir a nossa capacidade de decisão?
Inteligência artificial: facilitadora ou obstáculo para a autonomia?
Vivemos numa era em que qualquer dúvida pode ser resolvida com um simples clique. Precisas de organizar a tua agenda? Existe uma aplicação para isso. Queres aprender um novo idioma? Tens dezenas de plataformas ao teu dispor. Precisas de aconselhamento sobre um problema pessoal? A inteligência artificial já tem respostas programadas para ti. Mas até que ponto estas ferramentas digitais nos capacitam ou, pelo contrário, nos tornam dependentes?
O avanço das ferramentas online e a busca por soluções rápidas
As ferramentas digitais são uma solução rápida e eficaz para facilitar o dia a dia.
O Trello e o Notion, por exemplo, são excelentes para organizar o fluxo de trabalho. Com a opção de partilha de acesso, a equipa mantém-se alinhada com mais facilidade, o que se reflete em melhores resultados.
Já no caso de outras inovações, nomeadamente as que utilizam inteligência artificial, levantam uma questão importante: será que estamos a perder a capacidade de desenvolver problemas, passando apenas a delegar as nossas decisões a sistemas automatizados?
Quando a tecnologia substitui o pensamento crítico
A capacidade de resolver problemas é uma das maiores habilidades humanas, mas quando encontramos todas as respostas já formuladas, será que ainda conseguimos criar as nossas?
Por exemplo, se a inteligência artificial passar a ser a ferramenta principal que recorremos para saber respostas a problemas, será que não acabamos por perder a capacidade de raciocinar?
O cérebro é como um músculo, precisa ser treinado para desenvolver novas competências e para se tornar melhor nas que já aprendeu. Sem a necessidade desse esforço, tal como um corpo sedentário que não pratica atividade física, não ficaremos também com um cérebro sedentário? Ou pelo contrário, estaremos a dar espaço ao nosso cérebro para explorar outros caminhos?
Ainda assim, a tecnologia também pode funcionar como ferramenta para trabalhar o pensamento estratégico. Isso é especialmente visto em jogos em que os participantes precisam tomar decisões em tempo real, com base em lógica, análise de risco e antecipação dos movimentos dos adversários.
O xadrez online, além de permitir jogar com qualquer pessoa no mundo, disponibiliza ferramentas como problemas, ou cursos online para melhorar a estratégia dos jogadores.
Também as diferentes versões do poker como o Omaha poker, considerada mais complexa por serem distribuídas 4 cartas, ao contrário das 2 cartas fechadas no Texas Hold’em, são um exemplo disso.
Além do fator sorte, estes exemplos exigem um pensamento estratégico apurado, algo que ferramentas de IA ainda não conseguem replicar completamente. Um jogador bem-sucedido não pode apenas confiar em fórmulas predefinidas – precisa de ler o jogo, interpretar sinais subtis e adaptar-se constantemente. É um exemplo de como a tecnologia pode ser usada como um meio de treino mental em vez de uma substituição da capacidade de decisão.
Inteligência artificial: facilitadora ou obstáculo para a autonomia?
Com a popularização da IA em diversas áreas, é inevitável questionar se estamos a caminhar para um futuro onde a tomada de decisão humana será cada vez menos relevante. Se por um lado, a inteligência artificial nos ajuda a resolver problemas com rapidez, por outro, pode criar um ciclo de dependência, onde deixamos de procurar soluções próprias e passamos a confiar cegamente em algoritmos.
A chave para equilibrar esta relação está no uso consciente da tecnologia. Ferramentas digitais são poderosos auxiliares, mas não devem substituir a capacidade de pensar, criar e decidir por conta própria. A inteligência artificial pode sugerir um caminho, mas cabe a cada um de nós interpretar e avaliar se essa é realmente a melhor opção.
O segredo está no equilíbrio
Com as inegáveis vantagens que a era digital nos trouxe, a solução passará sempre por encontrar um equilíbrio entre o digital e o real.
Usar ferramentas online que nos ajudem a otimizar o tempo, tornando determinadas tarefas mais eficientes é ótimo, mas é igualmente importante trabalhar processos de auto decisão e raciocínio lógico para a resolução de problemas. Mesmo que aí também se recorra à tecnologia, através de plataformas online de entretenimento com jogos de estratégia como poker ou xadrez, estas não substituem o raciocínio e independência cognitiva.
No fundo, precisamos de encontrar o equilíbrio entre tirar proveito da inovação sem perder a nossa independência cognitiva. Afinal, ter acesso a todas as respostas não significa, necessariamente, compreender todas as perguntas.