Tomar perdeu ontem, mais um tomarense de coração, Tó Carvalho, que apesar de não ser natural deste concelho, amou esta terra e provou ao longo da sua vida ter um afecto muito especial pelo seu passado histórico. Não só deixou um conjunto de obras artísticas, algumas das quais de grande valor simbólico que retratam o quotidiano da maioria de um povo, na sua ruralidade, que o marcou na sua forma de vida e de pensar. Podemos considerar que é um testemunho dessa época, que tanto diz à nossa identidade cultural.
Tó Carvalho também esteve envolvido, na fundação (foi um dos fundadores), do CIRE, importante obra social, que ao longo da sua existência, já perto dos 50 anos, deu e continua a dar um extraordinário apoio a muitas crianças, jovens e famílias do concelho, portadoras de deficiência motora ou cognitiva. Este é, sem dúvida, um dos seus maiores legados, ele como ninguém sabia a importância de uma obra desta natureza, pois teve o infortúnio da sua única filha (já falecida) ser portadora de um problema desta natureza.
A Festa dos Tabuleiros, outra das suas grandes paixões, das tradições tomarenses, Tó Carvalho foi Mordomo da Festa Grande de Tomar, tendo conseguido pela primeira vez, uma gestão cujas receitas foram superiores às despesas. Entendeu na altura, que esse diferencial deveria ser aplicado a bem da comunidade tomarense, uma forma de devolver à comunidade o que lhe tinha dado. Com esse montante, pagou a iluminação do Castelo de Tomar, que passou a estar iluminado todas as noites, podendo quem nos visita admirar, à noite, um dos mais importantes edificados de Tomar e da sua história.
Tó Carvalho partiu ontem, deixou a terra que amava, acerca da qual defendia, que a sua história intrinsicamente ligada à epopeia dos Descobrimentos Portugueses, século XV, deveria ter na sua principal rotunda, (Aves Redol), a instalação de um projeto, por si idealizado e desenhado, alusivo aos Descobrimentos. Ideia que nunca colheu, à época, e anos seguintes, o apoio do poder político. Projeto que nunca foi concretizado, apesar dos esforços do seu autor que o mostrava com orgulho a quem visitava o seu atelier, no Pintado.
Hoje, muitos tomarenses, alguns com grande sentimento, outros por mera hipocrisia, virão a público lamentar a morte de Tó Carvalho, mas quando podiam fazer-lhe algum reconhecimento em vida, ou contribuir para a concretização do seu maior sonho, a criação de um núcleo museológico com os seus quadros, ignoraram. Ostracizaram-no.
Na última campanha eleitoral, a AD – Coligação do PSD/CDS assumiu o compromisso eleitoral de concretizar este projeto museológico, apesar de Tó Carvalho já não se encontrar entrer nós para ver o seu sonho realidade, estamos cá nós, em sua memória, para o cobrar junto do poder local, por Tó Carvalho.
Descanse em paz, amigo Tó Carvalho.
Isabel Miliciano
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