2024 foi um dos anos mais quentes de que há registo e Tomar está no top das cidades que registaram temperatura mais elevada em julho de 2024, atingindo 42,9º C no dia 23.
Esta é uma tendência que veio para ficar, com consequências muito gravosas para as populações, como o aumento de morbilidade e mortalidade potencialmente evitável e a sobrecarga de um sistema de saúde normalmente reduzido no verão, altura em que as temperaturas disparam e ocorrem estas ondas de calor.
As cidades são particularmente afetadas pelas temperaturas altas e ondas de calor devido ao efeito ilha de calor: os pavimentos, estradas e edifícios absorvem o calor do sol e irradiam-no de volta, causando um aumento ainda maior de temperatura e impedindo a cidade de arrefecer.
Uma das formas mais eficazes de atenuar este efeito de ilha de calor é a presença de árvores e infraestruturas verdes.
O estudo de 2023 “Refrescar as cidades através de infraestruturas verdes: análise do impacto de saúde em cidades europeias”, do Instituto de Barcelona para a Saúde Global, concluiu que uma cobertura arbórea de 30% numa cidade poderia baixar em 0,4oC a temperatura local e evitar cerca de 39% das mortes atribuídas a este efeito. Se esta cobertura chegasse aos 40%, além de as cidades refrescarem em média 0,5oC, seriam evitadas 41% de mortes devidas ao calor.
Perante estas evidências, teria toda a lógica incentivar a manutenção das árvores já existentes nas cidades e promover o aumento do seu número e distribuição pela cidade e a criação e manutenção de refúgios climáticos, locais onde as pessoas se podem refugiar numa onda de calor quando não dispõem de meios para arrefecer as suas casas.
Pois a Câmara Municipal de Tomar parece não querer seguir esta lógica. A maior parte das intervenções urbanas recentes nesta nossa cidade tem levado ao corte de árvores em perfeitas condições, sem justificação de problemas fitossanitários ou de ameaça a pessoas e/ou infraestruturas. As árvores cortadas são árvores já estabelecidas, já adaptadas ao meio urbano, com uma altura e uma copa que permitia atenuar o efeito de ilha de calor e tornar a cidade mais agradável no verão.
Podemos concordar que, no passado, a escolha das espécies pode não ter sido a mais adequada ao meio urbano, mas isso não é justificação para o seu corte, de acordo com a Lei n.o 59/2021, e que a Câmara Municipal de Tomar teima em não cumprir. As árvores que podem ser plantadas nas várias caldeiras vazias espalhadas pela cidade já podem ser com espécies mais adequadas ao meio urbano.
Dizem-nos que plantam mais árvores do que aquelas abatem. Não havendo um inventário das árvores da cidade,
como se faz esse balanço? Onde são feitas essas plantações? São concentradas numa área em vez de serem espalhadas pela cidade? São plantações com que espécies? Qual a idade das árvores que são plantadas?
Quantos anos demorará até conseguirem alcançar as dimensões que as árvores abatidas já tinham?
Além deste benefício de ajudar a regular o calor nas cidades, as árvores são essenciais ao meio urbano: promovem a biodiversidade, regulam a qualidade do ar e proporcionam bem estar dos cidadãos.
É urgente, enquanto cidadãos, mobilizarmo-nos e contribuirmos para a preservação do património arbóreo da nossa cidade, exigindo aos nossos governantes locais a sua boa gestão, a criação de uma rede de refúgios climáticos na cidade e a devida transparência nos processos de tomada de decisão e nos projetos que afetam diretamente os cidadãos e que nem sempre são divulgados e discutidos, ameaçando o nosso direito de exercício de cidadania.
Joana Simões
Licenciada em Engenharia do Ambiente pelo Instituto Superior Técnico
Mestre em Bioenergia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Doutoranda em Ciências da Sustentabilidade na Universidade de Lisboa