Médico de Tomar alerta para os limites saudáveis do uso de ecrãs na infância

Por Henrique Mendes*

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A utilização de ecrãs tácteis e tecnologia digital em idade pediátrica tem tido impacto na saúde e no neurodesenvolvimento das nossas crianças e jovens. Este impacto é particularmente nocivo quando os conteúdos são selecionados pela criança/jovem, sem interação com o adulto e sem filtros de segurança. Outro ponto a ter em conta é a didacticidade dos conteúdos visualizados assim como o tempo de exposição a estas ferramentas digitais.

A maturação do sistema nervoso central ocorre nos primeiros anos de vida pelo que uma exposição inadequada a tecnologia digital/ecrãs nestas idades pode levar a: limitação do desenvolvimento motor (por menor tempo dedicado a atividade física, a atividades grafomotoras como o manuseio de lápis, caneta ou tesoura entre outras atividades); dificuldade em focar a atenção, inibir impulsos ou gerir adversidades (potenciando assim comportamentos de hiperatividade e de défice de atenção); aumento do risco de comportamento social evitante, atraso da linguagem e empobrecimento lexical; aumento do risco de fadiga ocular digital; deterioração da qualidade do sono; elevação do risco de desenvolver perturbações do comportamento alimentar (devido a uma deterioração da imagem corporal); potenciação de quadros depressivos e ansiosos.

Dados os riscos que estes instrumentos digitais acarretam para as nossas crianças e jovens a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria decidiu emitir algumas recomendações para que os pais possam proteger e promover o neurodesenvolvimento dos seus filhos.

Para crianças dos 0 aos 3 anos de idade deve ocorrer uma proibição total de ecrãs excepto para televisão e videochamadas, sendo que esta exposição não deve ultrapassar os 30 minutos diários e o conteúdo deve ser selecionado sempre pelos pais (evitar conteúdo em português do Brasil)

O adulto deve sempre interagir com a criança nestes momentos e os ecrãs não devem ser utilizados para controlar birras. Nas refeições, no quarto e na escola os ecrãs nunca devem ser usados.

Para crianças entre os 4 e os 6 anos de idade a exposição a qualquer ecrã deve ser restrita a 30 minutos diários sendo o
conteúdo também selecionado por adultos e devendo sempre existir interação da criança com o adulto. Nas refeições, no quarto e na escola os ecrãs nunca devem ser usados.

Dos 7 aos 11 anos de idade o tempo de exposição não deve ultrapassar 1h diária, dos 12 aos 15 anos 2h diárias e dos 16 aos 18 anos 3h diárias. Nestas idades deve haver controlo parental de conteúdos de acordo com o nível de autonomia do adolescente. Deve-se sempre promover o sentido crítico em relação à informação e ao conteúdo visualizado assim como alertar para o risco de partilha de dados pessoais. As redes sociais devem ser usadas a partir dos 16 anos.

O uso de ecrãs não pode comprometer hábitos de vida saudável como: refeições em família, atividade desportiva, interação social e tempo de descanso. Os ecrãs não devem ser permitidos no quarto e a sua utilização na escola deve ser restringida apenas para materiais educacionais e dentro do tempo recomendado de exposição diária.

Recordo, em último lugar, que o comportamento dos pais modela o uso de ecrãs pelos filhos em qualquer idade pois, estes servem de modelos para os mais pequenos e são os principais agentes educativos.

Assim sugere-se a implementação das medidas supramencionadas para promover o correto neurodesenvolvimento das
nossas crianças e jovens.

*Médico em Tomar 

Artigo publicado na edição impressa do jornal O Templário

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