Dornes: Reinado de D. Dinis, o despertar da consciência histórica que há em nós
Turismo rural (histórico) em Dornes.
Ele João, ela Marta, um casal muito afável que me recebeu no seu espaço, Reinado de D. Dinis, em Dornes, e que me deu a conhecer um dos mais belos e interessantes projetos de turismo rural da região.
Foi assim que entrei no Reinado de D. Dinis, um dos reis mais marcantes da história de Portugal. Logo à entrada senti que “viajava” no tempo. Respira-se o espírito do lugar que os nossos olhos e os sentidos nos deixam absorver. Por momentos senti que deixei de fazer parte do presente. É como se viessem ao de cima todas as nossas outras vidas. Senti-me em casa, no meu território, como se ele existisse todo dentro de mim, pertença da minha existência.


A História dentro da história do projeto
João conta-nos que foi há cerca de 12 anos que pensaram que tinham de sair das grandes cidades – viviam em Cascais e começaram a preparar essa saída. Iniciaram a procura no interior e o requisito obrigatório era ser junto à água. É que João Dinis considera que a água irá ser um grande problema no futuro.
Andaram pela zona de Dornes e visitaram a antiga tasca do Ti Felipe, figura sobejamente conhecida na zona, famosa pelo suculento peixe frito. A tasca do Ti Felipe era uma referência e a família queria vender o espaço, mas pediam milhões pelo mesmo, uma vez que se constava que havia uns angolanos interessados, “com o objetivo de transformar o local num casino e numa casa de meninas”.
João e Marta esperaram dois anos para que os proprietários se apercebessem de que “não havia angolanos nenhuns”. De regresso a Dornes chegaram a equacionar outro local, mas repararam que a rua para a propriedade da antiga tasca passou a ter uma placa toponímica “Rua D. Dinis”… Até então não tinha nome. Este pormenor surgiu como um sinal e voltou a despertar o interesse do casal: “Isto tem de ser para nós”. Pois, o apelido de João é Dinis.
Confessa-nos que quando deseja atingir um determinado objetivo, não desiste até o atingir. Foram à luta, compraram o terreno e submeteram o projeto à Câmara de Ferreira do Zêzere, que demorou quatro longos anos para o aprovar, a acrescer a mais dois anos anteriores para legalização de todos os edifícios. Seis anos em que muitos dos amigos de João lhe diziam: “Desiste, arranja outra coisa”. No entanto, a palavra desistir não faz parte do seu vocabulário, retorque o industrial hoteleiro.
Chegou a dizer aos amigos: “Até posso desistir, mas só quando o projeto estiver aprovado. Até lá não desisto”. E foi assim, a sua resiliência, a sua teimosia. “Até parecia que estávamos a cometer um crime em Dornes”, desabafa.
A verdade é que quando o novo executivo municipal tomou posse, a avaliação técnica camarária andou mais depressa e acabou por concretizar o projeto. Hoje, João Dinis costuma dizer: “Isto não é a casa dos sonhadores, é a casa dos donos do sonho, somos os donos deste sonho”. Curiosamente, refere que “muitas das vezes se diz para não se começar a casa pelo telhado”. “Pois aqui”, confessa, “a casa começou pelo telhado”.
Identificaram primeiro os nomes dos quartos e ao fazerem-no ficou tudo mais fácil. “A casa do Rei D. Dinis o Lavrador tinha de ter determinadas características, de igual modo a suite da Rainha Santa Isabel… E quem criou todos os pormenores decorativos fui eu e a Marta, com a ajuda de todas as pessoas que se envolveram e acreditaram neste projeto (empreiteiros e sub-empreiteiros)”, contou a O Templário o proprietário do Reinado de D. Dinis.
“Ouve-se o silêncio”
Peço ao João que explique como se fosse para alguém que nunca veio a Dornes o que aqui pode encontrar. “Eu próprio sou um homem do mar, atravessei o Atlântico três vezes sozinho”, começa por referir, continuando: “Quem me conhece pergunta – o que é que estás aí a fazer? – Até há pouco tempo não tinha resposta, o que é que estou aqui a fazer?
Eu próprio não sabia o que estava aqui a fazer. Chamaram-me, mas ainda não percebi porquê.
Hoje sei. Sei que estamos aqui para despertar consciências. Este espaço tem um nível de energia ao nível da cura, ouve-se o silêncio, encontramo-nos connosco próprios. Não é um espaço para toda a gente, só para aqueles que se querem encontrar.”
E como é que um homem da área da Economia e da consultadoria (com formação académica) e do mar desembarca neste paraíso e abraça este projeto? João Dinis responde de pronto: “Porque são as nossas referências, não podemos perder as nossas referências.
Não podemos olhar à nossa volta e achar que isto caiu do céu. Isto foi conquistado por alguém, foi alguém que fez isto, foram os nossos antepassados. Então há que honrar esses nomes, defendê-los, há que manter a nossa história.
Este local honra a nossa história, honra os nossos antepassados, honra os 35 reis de Portugal e honra os grandes cavaleiros Templários como, por exemplo, Jacques de Molay e Gualdim Pais.”
Num dos quartos dedicado aos Templários há uma imagem do último Grão-Mestre da Ordem, Jacques de Molay, à qual ninguém fica indiferente. Sente-se uma mística, uma transcendência que nos eleva a outro patamar da existência. Só alguém com uma profunda admiração pelos guerreiros Templários pode ter sonhado este espaço.
E, de facto, para João Dinis os Templários são sinónimo de força, de conquista, de respeito, honra e proteção aos mais fracos.
“Era esse o papel dos Templários, a proteção aos peregrinos que se deslocavam à Terra Santa”, lembra. Simbolizam tudo o que defende e tenta no dia-a-dia seguir esses mesmos valores.
“Só depende de nós, basta querer”
Depois de uma vida na Grande Lisboa, para João e Marta não há idade para arrancar com projetos. O elemento masculino do casal afirma com grande convicção: “Não há limites para nada, só a nossa vontade. Tudo o que defendemos como desculpas, como justificações, é porque simplesmente não queremos, porque se quisermos não há justificação, não há que nos desculparmos, só depende de nós, basta querer.”
No Reinado de D. Dinis tudo foi pensado ao mais ínfimo pormenor. Mobiliário, decoração, livros, recantos, flores, pedras… Para João e Marta tudo aconteceu com a maior naturalidade. “Lá está, a nossa energia, o nosso objetivo estava tão bem definido que as coisas foram aparecendo e depois começámos a perceber que encaixavam. Não procurámos praticamente nada, não tivemos um trabalho de pesquisa. Foi tudo tão espontâneo que até nos surpreende essa naturalidade. Hoje olho para tudo isto e penso: como é que tudo isto foi possível?”, interroga–se o empresário hoteleiro.
Há coincidências? Ou não há coincidências? É na Rua D. Dinis que se situa o Reinado de D. Dinis e o apelido de João, como já referido atrás no texto, é Dinis.
Haveria aqui algo já predestinado? João responde com grande serenidade e sapiência: “Todos nós nesta vida temos um papel, criámos este espaço para despertar consciências, temos de ir beber ao nosso passado, à nossa história. Despertar consciências em relação a quê? Ao que estamos a fazer nesta vida, sobre o que pensamos, o que queremos, o que é importante, prioritário. Se cada um de nós conseguir isto, alcança o seu propósito de vida.”
Gastronomia tradicional de produção local
Para além do espaço de características únicas, no Reinado de D. Dinis pode-se usufruir de uma refeição sem a obrigatoriedade do alojamento. O sucesso culinário tem sido tão grande desde a abertura, em Setembro passado, que João e Marta decidiram abrir a mesa ao público também de uma forma diferente, mantendo a tradição, o respeito pela mesa, pelo o que se come, porque é a natureza que nos dá. Marta é a responsável pela confeção dos alimentos da Mesa D’El Rei, uma paixão que sente e à qual se entrega afincadamente, obtendo sempre no final o reconhecimento unânime de todos os hóspedes.
São praticamente 80 por cento auto-suficientes. João e Marta pescam de manhã cedo o peixe que se come à mesa. Possuem uma pequena quinta e horta biológica…
São experiências que não querem só para eles, mas que, pelo contrário, sentem necessidade de partilhar com os outros. Abriram a mesa ao exterior, sob reserva, e são os próprios clientes que podem sugerir o que querem comer, com 48 horas de antecedência. Marta cozinha para grupos com o mínimo de seis pessoas e o máximo de 12.
Para além da atenção dada à gastronomia e à recuperação das tradições na mesma, o Reinado de D. Dinis possui no seu cais várias embarcações, destacando-se o Navegador, com capacidade para sete pessoas, no qual é sugerido um passeio às três ilhas do rio Zêzere, perto do Rio Fundeiro, bem como o tradicional barco de três tábuas. Estão disponíveis mais atividades, como o paddel, o laser, a pesca desportiva e passeios de jipe e moto 4. Em breve, a juntar ao Tabernáculo D’El Rei, será inaugurada a Bodega Templária, espaço de degustação típico de ambiente rural, equipado com forno a lenha que também cozerá o pão do Reinado.
Quanto às expetativas para o Verão que se aproxima, João e Marta aparentam muita tranquilidade. Garantem que têm noção do que estão a fazer, não querem muita gente, só querem gente boa, gente que ande à procura de despertar consciências. “Não se trata de uma oferta de turismo para massas, é um turismo para pessoas ligados à natureza, para pessoas que apreciem estar em conexão com a natureza”, consideram os proprietários do Reinado de D. Dinis.
Em forma de derradeira mensagem, desejam a partilha da sua filosofia com pessoas que entendam a essência do projeto. João conta-nos que um cliente lhe disse que o presente ali não entra.
“Tecnologias a falta de respeito não. O presente aqui não entra. É um dos princípios fundamentais e intrínseco ao Reinado de D. Dinis”, finaliza.
É um lugar que nunca mais se esquece.
Artigo publicado na edição impressa do jornal O Templário em 13-06-2024
Isabel Miliciano
“Espaço único no Mundo”
O Reinado de D. Dinis iniciou funções em Setembro de 2023 e é uma unidade de Turismo Rural com cariz histórico-cultural, tendo como objectivo alcançar um nicho de mercado
médio-alto, que valorize características relacionadas com a história, a cultura, a herança templária, a natureza, os desportos náuticos, a pesca, a agricultura e a gastronomia tradicional. Com aposentos – suites/casas – muito peculiares, o hóspede é convidado a ingressar numa viagem através do tempo, numa experiência diferenciadora.
A acrescer às condições de qualidade superior, o Reinado de D. Dinis é privilegiado com uma localização única, em Dornes, aldeia templária do interior de Portugal, considerada a mais bonita do país na categoria de aldeias ribeirinhas, no concurso das 7 Maravilhas, bem como o prémio Cinco Estrelas Regiões, na categoria Aldeias e Vilas, distrito de Santarém.
O Reinado Dom Dinis situa-se na margem sul do rio Zêzere, de frente para a Torre Templária Pentagonal, única no país, possibilitando que todos os alojamentos tenham varanda e vista para o rio e ainda acesso direto à água.
O “feedback” de alguns hóspedes, conhecedores das melhores soluções ao nível do turismo nacional e internacional, faz com que os proprietários da unidade de turismo tenham a consciência de possuir algo especial. Muitos desses hóspedes confessaram-lhes mesmo que o Reinado de D. Dinis é um “espaço único no Mundo”.