Flecheiro – As margens de erro

Após uma primeira visita no final do mês de maio e ao ver o estado atual do Parque é de ficar perplexo.

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Durante décadas a zona do Flecheiro e em especial as margens do rio Nabão foram esquecidas.
Existia planos, estudos e ideias, mas como sempre entre guerras políticas para ver quem ganha mais votos, são os Tomarenses que ficam também eles esquecidos. Quando finalmente mereceu atenção, o projeto do que vemos hoje aplicado, ignora uma verdade simples e conhecida – trata-se de uma zona de cheias recorrentes, um Parque que foi inaugurado a 13/07/2024, com um custo de 2.8 Milhões de Euros, mas infelizmente representa um Parque de erros, representa um padrão que se repete nas obras públicas da Câmara Municipal de Tomar.

Flecheiro – As margens de erroApesar da colaboração da Agência Portuguesa do Ambiente ( APA) que na verdade ainda nem se deu ao trabalho de aprovar o Estudo Hidráulico do Nabão, o que nos faz questionar qual a razão de tanta demora? Um investimento público de valor avultado, com direito a visita da Ministra do Ambiente, era de se esperar mais e melhor. Melhor planeamento e mais repensar nos materiais que foram usados. Aliás, tem sido esse o frequente calcanhar de Aquiles das obras públicas em Tomar, a péssima escolha dos materiais a serem aplicados nas diferentes zonas.
Após uma primeira visita no final do mês de maio e ao ver o estado atual do Parque é de ficar perplexo. Para além de ser um espaço abandonado, sem manutenção, sem limpeza, sem iluminação publica, zonas de passeio cobertas de lama seca, zona de plantas moribundas, caixotes do lixo vandalizados, lajetas fora do sítio, peças de revestimento descoladas e caídas, fissuras no cimento dos passeios e fuga de água nos bebedouros. Mas calma, nas palavras do Sr. Presidente da CMT, «A obra projetada para o Flecheiro está a cumprir o seu objetivo, ou seja, evitar danos eventualmente provocados pelo Nabão em áreas habitacionais.” – E os danos provocados no espaço do parque e dos equipamentos públicos que custaram 2.8 milhões de euros aos contribuintes? Também foram evitados?

Flecheiro – As margens de erroUm estudo da “European Environment Agency” – EEA de 2020, revela que projetos urbanos em zonas de risco hídrico tendem a ter custos de manutenção 2.5 vezes superiores ao de infraestruturas construídos em zonas seguras. A mesma agência europeia, alerta para o facto de obras realizadas sem a consideração por soluções baseadas na natureza ou por materiais adaptados ao risco hidrológico acumulam em médios custos de manutenção e reabilitação
entre 150% a 250% superiores aos inicialmente previstos num período de 5 a 10 anos. Fica umas questões… será que vai ser o PS de Tomar a entrar com dinheiro próprio para a manutenção? De quem é a responsabilidade técnica e por isso quem vai colmatar os custos elevados de manutenção?

Flecheiro – As margens de erroConvido a visitarem (nem que seja á distância), um dos muitos exemplos de intervenções junto a rios, como é o caso de Cluj-Napoca – Roménia – Recupera o carácter natural das margens do rio, expandindo e modificando a margem estreita e rígida preexistente, transformando-a num ambiente mais suave e natural. Assim, a intervenção promove a biodiversidade, a formação de microclima, a absorção de CO2 e o controlo de espécies invasoras. O projeto redesenha o rio como um novo espaço social que funciona em diferentes escalas, criando maior dinamismo económico.

Flecheiro – As margens de erroA recuperação e valorização dos rios deve assentar numa lógica de resiliência e adaptação na recuperação saudável das águas dos rios e das suas margens, e não em embelezamentos passageiros que servem mais para a fotografia do que para servir e respeitar a população. Tudo é possível, por vezes é preciso é humildade, olhar para os outros e respeitar o dinheiro publico, porque o mesmo deve ser colocado ao serviço da população e a pensar no bem da população, e aumentar o dinamismo da cidade, e não apenas na promoção temporária de obra feita.
Espero que este meu contributo seja entendido como uma crítica construtiva, porque a procura de melhores soluções é uma das virtudes da democracia. E infelizmente a democracia em Tomar parece estar estagnada.

Flecheiro – As margens de erro

O Flecheiro é uma das zonas da cidade que tem tudo para se transformar numa das mais dinâmicas zonas das margens do rio Nabão, não pode continuar a ser esquecida, numa margem de tanto erro. O rio Nabão e as suas águas merecem melhor. Os Tomarenses merecem saber onde, como e porquê se vai investir em determinados projetos, quais os fundos, quais os dinheiros a autarquia está a gastar – Especialmente quando nesta cidade e na vida do dia a dia de tantos Tomarenses falta para o essencial.

Tiago José Serrano
VOLT Portugal

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1 comentário
  1. António Serraventoso Diz

    Os ciganos quando tinham lá as barracas, tinham o local mais cuidado.

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