Opinião: Os Rostos dum Povo do Tó Carvalho

Por: Carlos Trincão.

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O Tó Carvalho completou 86 anos um dia destes, mais precisamente a 27 de Fevereiro.

Com ele me cruzo amiúde, mais fruto do acaso do que da vontade, trocamos saudações e abraços de mistura com um laracha, e logo seguimos nossos caminhos.

No último ano e meio, quando ele se apercebeu de que eu andava doente e já não ia à escola há uns meses — onde, volta não volta, me batia à porta para dois dedos de conversa — ligava-me com frequência — logo ele com mais duas décadas do que eu! — para saber do meu estado.

Faço-lhe público e sentido agradecimento, o que, para o que se segue, não é de todo relevante.

O Município já lhe reconheceu a valia com a atribuição da Medalha de Honra pela sua qualidade de Mordomo repetente da Festa dos Tabuleiros (o que ainda mais se justifica por ter sido a sua determinação a repor a Festa após um interregno de cinco anos, em que o 25 de Abril se metera de permeio); porém, o reconhecimento enquanto Artista ainda está por completar, não obstante algumas exposições suas em instalações municipais ou, mesmo, o lançamento de uma obra biográfica no Moinho da Ordem há coisa de três ou quatro anos, por aí.

A propósito, foi até parte da Obra de Tó Carvalho que inaugurou a Galeria Maria de Lourdes de Mello e Castro, na Escola Secundária Jácome Ratton.

Ora, é essa mesma obra que continua solitária e desconhecida no seu atelier do Alvito, em boa verdade mais amontoada que organizada e devidamente defendida, dada a exiguidade do espaço. Bem, em boa verdade, não tivesse pintado tanto e tão bem e o problema não se colocaria. Mas só ficará bem a quem gere estas coisas da Cultura perceber que há um valor escondido que merece a luz permanente de todos os dias…

O traço assumido e fortemente realista da sua OBRA torna perene momentos fátuos da vida portuguesa, designadamente na sua componente rural e popular, seja na dimensão nacional, seja na local; e, nesta última, sobressaem com valia e força admiráveis pessoas, lugares e acontecimentos marcantes da nossa realidade próxima que qualquer tomarense reconhece sem dificuldade.

A Obra de Tó Carvalho, seja em que dimensão for, assume-se também como incontornável documento em manifesto abono da Memória e do Património, pelo que merece — diria: exige! — exposição permanente na sua totalidade ou em parcelas rotativas e temáticas.

A Obra deste albicastrense com ascendência transmontana e beirã, que escolheu Tomar para sua Casa, fica incompleta e desperdiçada se não estiver disponível para os sentidos e para os sentimentos de quem a puder apreciar.

Não há por aí um local que possa acolher a sua Obra  em condições, possibilitando visitas sem constrangimentos?

Não há por aí um local que saia do seu anonimato e se transforme num novo pólo de interesse cultural e de atracção de visitantes?

Não acredito!

Assim de repente, e com a não responsabilidade que só aos que não têm responsabilidades sobre a Coisa Pública se confere, saltam-me, pelo menos dois: um à entrada da Corredoura, num magnífico edifício às moscas, propriedade do Turismo de Portugal; outro, ao cimo da Cândido Madureira, que os anos 30 do século passado viram surgir entre pedras novas e antigas.

Que haverá obstáculos e impedimentos? Provavelmente.

Que poderão ser ultrapassados? Certamente.

Bastará apenas uma balança imaterial que pese os valores em questão e decida.

Se não tomarmos contas dos nossos, quem tomará?

E como as coisas não se fazem do pé para a mão, estarão os Partidos e os Candidatos às próximas eleições autárquicas, assim que se passar o afã das Legislativas e das Europeias, em excelentes condições para pensarem no assunto e, chegada a altura, apresentarem soluções assentes nos tempos e nos espaços devidos e necessários para que a próxima personalidade a presidir à Câmara Municipal concretize este Dever e esta Obrigação com a rapidez que os quase 90 anos do Tó Carvalho nos merecem.

In Carlos Trincão – https://jatenhoblogue.blogspot.com

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