Tomar e Almourol entre os mais belos castelos de Portugal

Por: Beja Santos

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“Os mais belos castelos de Portugal”, texto de Júlio Gil e fotografia de Augusto Cabrita, conheceu sucessivas edições a partir de 1986, e justificadamente, é uma boa obra de consulta, texto escorreito e imagens de uma beleza inexcedível. Prefaciou o professor Joaquim Veríssimo Serrão, vale a pena deixar aqui duas citações: “Erguidos por vontade dos reis, dos grandes senhores ou das ordens de cavalaria, constituíram células do organismo português na plena definição do território pátrio. Eram locais de ataque ou defesa em tempo de guerra, quando para o espírito medieval a cidade dos homens se identificava com a cidade de Deus” e “Apenas se pode compreender a luta cristã para a definição do território contemplando a silhueta do Castelo dos Templários em Tomar, que depois serviu de ponto de ação à Ordem de Cristo para tornar possível os descobrimentos henriquinos. Os castelos são uma permanente lição de história e não menos de geografia cultural. O seu melhor conhecimento impõe a salvaguarda de um património que tanto sofreu com as inclemências do tempo e a injúria dos homens”.

Estamos agora em Tomar, seguimos a narrativa, ela é o nosso guia: “A praça de armas alonga-se desde a Porta do Sol à Charola, a noroeste. No ponto mais elevado do cabeço, o terreiro da alcáçova, apertado por altas muralhas, contém a torre de menagem e a sudoeste, para lá de uma cortina de muralha (desaparecida), afilou-se depois um terreiro, rematado pela Torre da Rainha.

Variedade de formas e de volumes de uma arquitetura de exceção, perspetivas da fortaleza e seu terreiro, janelas e portas emolduradas, arcarias, merlões abertos por troneiras cruzetadas, arborização envolvente, encanto das paisagens, fazem do Castelo de Tomar monumento de raros privilégios estéticos”. Castelo com trabalhos em progresso desde que aqui, em 1190, o emir de Marrocos, Iacube Ibne Iúçufe não conseguiu derrotar os Templários que lhe deram indómita resistência, houve paço do Infante D. Henrique, continuaram as obras com D. Manuel I e D. João III, engrandecimentos e cuidados assinaláveis com os reis Filipes, ampliações, agora de estilo barroco, com D. João IV e D. Pedro II, e também destruições, vandalismos e roubos, por aqui andou o sanguinário Maneta, a extinção das ordens religiosas transformou esta obra de arte em casas de aluguer, currais, refúgio de ladrões, deu-se a dispersão criminosa do seu precioso recheio.

Não terá sido por acaso que os responsáveis por esta edição tão cuidada recorreram à imagem do Castelo de Almourol para o esplendor da capa. À sua volta, lendas não faltam, o palmeirim de Inglaterra, as princesas Misaguarda e Polinarda, as lutas para conquistar o coração de Misaguarda; o gigante Dramusiando,… O cenário mágico do Castelo de Almourol está envolvido por lendas, ergue-se sobre penedos, tem 310 metros de comprido e 18 metros de altitude, acima do nível de estiagem, está fronteiro a Tancos e a breve distância de Vila Nova da Barquinha. O geógrafo Estrabão canta a beleza deste ilhéu. O Castelo foi tomado aos Mouros pelo primeiro rei, confiado à Ordem dos Cavaleiros do Templo, que assegurava a defesa do curso do Tejo desde o Ródão à Golegã. Castelo reconstruído em 1171. A sua descrição tem tanto de vibrante como de rendição ao génio arquitetónico: “Firmemente alicerçada na penedia granítica que a obriga a ondear, a muralha exterior é robustecida por dez torreões. De diferentes diâmetros, os cilíndricos cubelos, separados por planos também desiguais, dão à fortaleza uma plasticidade e um jogo formal, de superfícies iluminadas e de sombras próprias e projetadas, de invulgar beleza.

Logo passada a porta flanqueada por dois torreões, alonga-se um terreiro entre o castelejo e ruínas de instalações castrenses situadas em níveis inferiores. Por aqui se abria a poterna, porta da traição, perto da qual existiu um poço que, diz o povo, seria boca de um dos túneis misteriosos que uniam o castelo à margem do rio.

De planta quadrada, a torre de menagem tem dois pavimentos, agora de madeira; no segundo deles, sobre um portal que talvez servisse uma desaparecida varanda, encontra-se insculpido o antigo emblema templário, a cruz patesca. Ameias, seteiras, adarves, pequenos eirados, escadas de pedra, movimentam volumes e espaços. Tufos de vegetação, blocos de granito, laivos de areias, o rio correndo, rodeiam o castelo apostados no seu luzimento, obras de Deus a engrandecer obra humana; as margens do Tejo completam o quadro magnífico. Porque o Tejo por ali corre e percorre, não se detém no Almourol encantado por lendas, histórias de maravilhar e até mouras encantadas, a lenda de D. Ramiro, feroz alcaide do castelo de quem se conta a vingança do jovem mouro a quem o bruto alcaide matara a mãe e a irmãzita, sem razão. Há depois o envenenamento da alcaidessa, D. Ramiro irá morrer de desgosto e o castelo abandonado a cair em ruína. E diz a lenda que na noite de S. João aparecem os amantes abraçados e D. Ramiro a seus pés implorando perdão, melhor só nas óperas, naquelas que falam dos castelos do Reno, nada melhor que um visitante bem informado para usufruir deste espetáculo sem par, é panorâmica imorredoira, maior singularidade não há de Melgaço a Penela, de Castelo Rodrigo a Évora Monte ou de Elvas a Sagres, são castelos da primeira geração, profundamente identitários, e implicando-nos na tal geografia cultural de que nos fala o professor Veríssimo Serrão quando escreve: “Na mudez das suas pedras venerandas, os castelos de Portugal guardam o segredo de uma fala que teve lugar no tempo e no espaço – nos quase nove séculos em que o nosso País se criou como Estado, se robusteceu como Pátria e se definiu como Nação. Restos de um passado de glória, os nossos castelos são um reconforto para os bons portugueses no desencanto da vida de hoje. Para os que amam a terra em que nasceram, eles despertam um mundo de lembranças que nos prendem o coração e se entrelaçam na alma”.

 

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