Projeto para acabar com 70 barracas e instalar 250 pessoas em Tomar concluído no verão

Plano de reintegração habitacional da comunidade cigana instalada há décadas num acampamento na zona ribeirinha do Flecheiro, junto ao rio Nabão.

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A Câmara de Tomar prevê concluir no verão um projeto social “histórico”, iniciado em 2013, de demolição de 70 barracas no Flecheiro, com a instalação em habitações condignas de 250 pessoas da comunidade cigana.

O plano de reintegração habitacional da comunidade cigana, instalada há décadas num acampamento na zona ribeirinha do Flecheiro, junto ao rio Nabão, numa das principais entradas da cidade de Tomar (distrito de Santarém), foi delineado para ser concluído em oito anos (dois mandatos), faltando atualmente demolir 15 barracas e instalar cerca de 50 pessoas, em casas ou bairros sociais, disse à Lusa o vice-presidente da autarquia, Hugo Cristóvão.

bairro do flecheiro tomar 4O processo é acompanhado, segundo o município, de um dos mais relevantes projetos de inclusão social das últimas décadas.

“Diria mesmo o mais relevante das últimas cinco décadas, uma vez que o Flecheiro, enquanto acampamento, foi criado no pós-25 de Abril [de 1974] para libertar espaços de construção noutros locais da cidade e de lá para cá nada mais aconteceu a não ser o juntar de outras famílias vindas de outros locais do concelho e fora dele, nomeadamente da Área Metropolitana de Lisboa”, disse o autarca, dando conta de que, à medida que os habitantes do Flecheiro são realojados, as barracas vão sendo demolidas.

Para Hugo Cristóvão, esta “era uma situação que urgia resolver, não só pela situação humana – cerca de 230 pessoas em 2013 a viver em barracas sem qualquer condição de vida – e também pela necessidade de regeneração urbana daquela zona” da cidade, “primeira zona industrial, entretanto praticamente devoluta e em ruínas”, onde as barracas foram aumentando.

“Eram cerca de 230 pessoas ali instaladas quando, em fins de 2013, após chegarmos à governação municipal, realizámos aquilo a que costumo chamar os censos do Flecheiro, que hoje, entre nascimentos e casamentos, representam cerca de 250 pessoas”, relatou.

O registo oficial de barracas – com “número de polícia” – contabilizava então 55, mas “na verdade eram mais, talvez umas 70”. No caso de alguns agregados, as barracas “desdobravam-se noutras”.

Segundo o vereador, foi delineado um “plano com várias frentes”, entre a recuperação de casas dos dois bairros sociais municipais, a construção, a reabilitação de outros imóveis devolutos propriedade do município e também alguma aquisição”.

Nos dois anteriores mandatos autárquicos, não houve candidaturas a fundos ou outros financiamentos, pelo que “praticamente tudo tem sido feito por via do orçamento municipal”.

No entanto, neste mandato iniciado no final de 2021, “porque a Câmara Municipal tem uma Estratégia Local de Habitação definida e aprovada pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, existe a possibilidade de ter financiamento para algumas das ações que restam”, acrescentou o autarca.

Este é um projeto social de um “trabalho contínuo e muito posterior ao realojamento, de integração na restante comunidade, também muito em rede com as demais instituições, com as da educação e da segurança social como base fundamental”.

Por outro lado, realçou o vereador, há um trabalho com a restante comunidade, “com ações de sensibilização e comunicação que evidencie as mais-valias desta integração, combatendo mitos e heranças culturais entranhadas durante séculos”.

Um desses mitos está relacionado com a habitação, desconhecendo-se que a reinstalação da comunidade cigana assenta num regime de renda apoiada.

“Por vezes os cidadãos em geral pensam que damos literalmente casas. Claro que não é assim. As pessoas que entram em habitação social pagam renda, água, luz, gás, como todos os outros, e isso só por si é já uma grande evolução, até na organização familiar, porque antes, nas barracas, evidentemente não pagavam nada”, notou.

O dia em que foi demolida a primeira barraca desta área foi um dia muito feliz: “Daqueles em que sentimos que o nosso trabalho vale a pena, porque estamos mesmo a mudar a vida das pessoas e da comunidade. No verão, no dia em que cair a última, será um dia histórico, será o fim de 50 anos de vergonha coletiva e o início de uma nova e importante zona da cidade para vivência dos tomarenses e de quem nos visita”, disse Hugo Cristóvão.

O vereador lembrou que o futuro traçado para aquela zona ribeirinha assenta num projeto de fruição do rio e da natureza.

“Como costumo referir, transitaremos do acampamento para os jardins do Flecheiro”, concluiu.

Lusa

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