Emprego remoto: que caminho terá de ser feito para tornar o trabalho digital uma realidade sustentável

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O ano de 2020 marcou a adaptação a modelos de trabalho 100% remotos e a consequente corrida aos melhores profissionais por parte das empresas. Esta viragem para o emprego à distância serviu de mote para vários aspetos positivos, como a flexibilidade de horários ou a supressão de despesas de deslocação e alimentação, mas também deixou a nu algumas fragilidades que este modelo acarreta para os trabalhadores. Embora a preocupação com questões legislativas seja letra morta quando falamos de trabalho remoto, a verdade é que ainda existe muita indefinição acerca dos trâmites em que o trabalho digital se desenrola, e esse aspeto acaba por retardar uma massificação total deste tipo de trabalho.

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A febre digital chegou a um ponto em que o diálogo passou irreversivelmente para o online. Assim se explica que o atendimento ao cliente aconteça mais no email ou no chat do que na loja, que os artistas mantenham o contacto com os fãs através do Instagram ou do Facebook ou que os políticos respondam aos seus eleitorados através do digital, como fez o Presidente da Câmara de Ourém num espaço denominado a “Hora do Presidente”. Curiosamente, é esta facilidade de comunicação através do digital que é responsável pela criação de uma imagem acerca da entidade empregadora. Mesmo sem estarem no mesmo espaço físico, cultiva-se um ambiente de confiança e inclusão entre os trabalhadores e a empresa através de atividades promovidas pela organização ou da própria interação que é feita diariamente através de plataformas como o Zoom ou o Slack. Esta boa relação acaba muitas vezes por disfarçar aspetos menos positivos, que podem acontecer ao nível dos contratos, pagamentos, condições oferecidas, etc.

Regular o mercado de trabalho digital é fundamental para que se assista a uma normalização deste tipo de trabalho, assente na proteção social e condições justas. Esta regulação terá de fazer destrinça entre trabalho digital, teletrabalho ou trabalho através de uma plataforma de freelancers, já que são realidades muito diferentes. Outro aspeto importante diz respeito ao investimento na formação dos colaboradores para que não se cultive uma tendência de trabalho desqualificado. No fundo, é preciso que as entidades assumam uma relação laboral com os seus trabalhadores, garantindo-lhes todos os direitos legítimos, como, por exemplo, um contrato de trabalho ou recibos de vencimento. Nesta base, existem já alguns exemplos a nível internacional, como, por exemplo, em Espanha, onde a Glovo foi obrigada a contratar as pessoas que trabalham com a plataforma.

Apesar de alguns aspetos impedirem que o trabalho remoto se assuma como o novo normal, existem atrativos nesta modalidade de trabalho à distância que fazem com que vários setores tenham migrado para o digital. São estes setores que podem acelerar a adesão ao trabalho digital. De resto, podemos entender este fenómeno servindo-nos de exemplos de três diferentes mercados onde o online assume hoje uma posição central. Na música, o Spotify e o Apple Music oferecem uma comodidade total em termos de utilização e permitem que o utilizador usufrua do serviço em qualquer local e hora, desde que tenha internet. Nos jogos, muitas plataformas possuem também essa ligação à ubiquidade (a toda a hora e em qualquer lugar) e estão disponíveis em qualquer dispositivo. Exemplos do tipo são a plataforma Steam e os portais de casino online. Estes últimos, além de estarem sempre à disposição dos utilizadores, independentemente de hora ou local, também têm muitas vezes outros atrativos, como permitir que os utilizadores joguem com saldo oferecido, também conhecido como bónus sem depósito. Na área do design, as ferramentas como o Figma ou o InVision Studio providenciam ferramentas digitais aos aos utilizadores para que estes possam experimentar otimizar a sua produtividade nos seus trabalhos.

Tudo somado, o trabalho digital só poderá atingir um nível global de aceitação quando existirem leis que protejam os trabalhadores. Para além disso, este tipo de modelo laboral deve ser olhado caso a caso, já que pode diferir de acordo com as especificidades das entidades empregadoras ou plataformas. Este é um trabalho que já está a ser feito. De resto, o estatuto do trabalhador digital foi tema de debate no Conselho Económico e Social Europeu com vista a que estes profissionais se possam organizar e defender legalmente. A necessidade destes trâmites parece reunir algum consenso, já que o Conselho aprovou o referido estatuto com 85% dos votos. Esta é uma luta que as empresas terão também todo o interesse em travar, tendo em vista uma reputação imaculada e a criação de um sentimento positivo dos seus colaboradores em relação à organização onde trabalham.

 

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