A sexualidade de um político

Pontos de Vista por: Orlando Fernandes

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Paulo Rangel entendeu esta semana pela primeira vez falar publicamente da sua homossexualidade. Não foi ao acaso que escolheu fazê-lo neste timing e num programa de domingo de lágrima fácil e grande audiência, onde atendem estrelas de televisão e vedetas pop, e não uma entrevista mais formal a um político.

Este foi o primeiro passo na corrida à liderança do PSD, que começará no dia 26 de setembro à noite, é o mais de bem posicionado para fazer frente a Rui Rio.

Rangel já antes tinha orquestrado uma tentativa de chegar ao topo do PSD em 2017, e estava muito bem posicionado. Nessa altura, tinha reunido os apoios necessários, das distritais aos nomes fortes para braços direitos. E, à última hora, surpreendentemente, saiu de cena.

À boca pequena, dentro do partido e nas lides jornalísticas, sabia-se porquê tinha sido ameaçado com a mais vil das estratégias, uma “campanha suja” de expor a sua vida privada. Aquela que veio mesmo a acontecer agora pela mão inimiga dos que se sentem, ameaçados por ele.

 Em 2017, o tema morreu quando Rangel desistiu e deixou de ser uma ameaça, e os jornalistas, muito decentemente fizeram o que lhes compete passaram ao largo dos temas da esfera íntima do político. Agora, a vida privada de Rangel aterrou na praça pública, primeiro com um vídeo antigo em que circulava pelo passeio embriagado após uma saída noturna e depois com uma miserável manchete num jornal sobre a necessidade da sua “saída do armário”. Tudo isto é abominável tudo isto é da mais baixa política.

 Nunca é demais dizer que a orientação sexual de políticos ou outras figuras púbicas não deve ser tema, a não ser que tenha, por alguma razão muito excecional inequívoco interesse público. Não é a sexualidade que os define. E a exigência de que os que não são heterossexuais se assunam publicamente é apenas mais um sinal de que há um imenso caminho a percorrer.

A igualdade está garantida por lei, mas o preconceito ainda não desapareceu. Por isso, o que não deve ser tema ainda é e vai continuar a ser tema por alguns anos. Oxalá que poucos.

Diferente é a discussão que se seguiu sobre o facto de o político que agora se assume homossexual ter, em 2015, votado contra a lei que permite a adoção por pessoas do mesmo sexo. Apesar de ter liberdade de voto dentro do partido em assuntos de consciência e de poder abster-se, Rangel não o fez.

Nunca é demais sublinhar que está no seu pleno direito: pode ser-se homossexual e contra o casamento e a adoção homossexual. Só quem vê o mundo das trincheiras, dentro das caixinhas, quem pede tolerância aos outros, mas é muito pouco tolerante com que não alinha exatamente consigo é que não admite o contrário.

Pode ser-se homossexual e não alinhar na luta pelos direitos LGBT. Porque, sim pode ser-se homossexual assumido e, simultaneamente, um conservador. Exatamente aquilo que Rangel é neste como noutros temas.

A única coisa pela qual daqui em diante, Rangel deve pois ser avaliado é pelo que quer para o País e a orientação que daria a um PSD à deriva. Que é inteligente e combativo, já sabemos. Mas que princípios éticos tem e que valores fundamentais defende? Vai ocupar o centro ou encostar-se à direita populista do Chega, como já admitiu possível? Que reformas tem para Portugal? Com que argumentos espera governar? Que bandeira terá como suas? Fará melhor ou pior do que Rui Rio? Tudo isso devem, para já, os sociais-democratas avaliar nas próximas primárias.

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