Tomar, a cidade esquecida

Por: Tiago Matos Gomes

0 1.037
Widget dentro do artigo  
 
   
Advertisements
Advertisements

Esta é a semana da Festa dos Tabuleiros, que acontece em Tomar de quatro em quatro anos, uma das mais emocionantes manifestações das nossas tradições populares. E é de facto uma festa grandiosa, que chama à capital templária centenas de milhares de pessoas a uma cidade que tem cerca de 20 mil habitantes e a um município com pouco mais de 40 mil.

Tomar tem sido injustificadamente, desde o século passado, uma cidade bastante menosprezada pelo poder político. Esteve para ser capital de distrito – até teve o estatuto de cidade mais cedo do que Santarém – e nunca o foi, foi a última localidade do Médio Tejo a ter um novo hospital, depois de Abrantes e Torres Novas (e que tem pouquíssimas valências), tem de partilhar um pólo do seu Instituto Politécnico com Abrantes, foi a última cidade do distrito com auto-estrada a passar no seu município, sem que até hoje tenha uma ligação decente entre a cidade e essa via.

Parece haver uma constante má vontade do poder central, da capital de distrito e das cidades vizinhas para com Tomar. O que é profundamente injusto. Tomar é de longe a cidade do distrito de Santarém com maiores e melhores condições de desenvolvimento. Não só de acessos, até tem uma estação ferroviária que chega junto ao centro histórico, como de morfologia e da própria organização urbana, que vem desde os templários. É uma cidade compacta, com bons equipamentos e bem planeada. E tem a grande vantagem de ser plana no centro e relativamente plana nos bairros modernos.

Não fosse o desprezo do poder central e alguma inércia das forças vivas da cidade e Tomar poderia ser hoje uma das principais cidades do país, ainda com a vantagem de estar quase no ponto exacto do centro do país. O centro geodésico de Portugal fica em Vila de Rei, não muito longe de Tomar.

A Festa dos Tabuleiros, que tem o seu ponto alto com o grande cortejo no próximo domingo, é o momento em que o país se lembra que Tomar existe. É de facto uma manifestação cultural sem paralelo. Durante 10 dias os tomarenses mostram ao mundo aquilo de que são capazes e que andaram a preparar há pelo menos um ano. Todo o município se envolve, desde associações, escolas, paróquias, poder político… Um dos exemplos maiores dessa união em prol da festa é a preparação das ruas ornamentadas, cada uma delas escolhe um tema e são os próprios moradores que fazem as flores de papel e toda a decoração.

Esta festa, que tem origens ancestrais de culto de fertilidade das terras e que passou a ser dedicada ao Espírito Santo a partir da rainha Santa Isabel, foi depois exportada com variantes diversas para os Açores, Brasil e outras paragens no tempo das Descobertas. Tornou-se uma festa universal, adaptada às gentes onde foi implementada. Basta recordar que Tomar, no seguimento da Ordem dos Templários, foi sede da Ordem de Cristo, a mesma que patrocinou as grandes navegações dos portugueses pelo mundo.

Vivemos num tempo sem memória, em que o imediatismo de uma foto para o Instagram nos faz perder a curiosidade para entender a origem das tradições que nos fazem ser aquilo que somos hoje. A Festa dos Tabuleiros e Tomar, como várias outras festividades deste país, são bons pretextos para voltarmos a entender o que é isto de sermos portugueses e europeus. De entender quem somos.

*Tiago Matos Gomes, In www.dn.pt

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)

 

Todas as quintas-feiras, receba uma seleção das nossas notícias no seu e-mail. Inscreva-se na nossa newsletter, é gratuita!
Pode cancelar a sua subscrição a qualquer momento

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.